Autor
Andreas Speck

O Plano de Ação do Movimento (MAP, na sigla em inglês) é uma ferramenta para ajudá-lo a entender o progresso de uma campanha social. Desenvolvido na década de 1980 por Bill Moyer, descreve oito etapas de movimentos bem-sucedidos e quatro papéis diferentes que os ativistas desempenham em um movimento social.

O MAP baseia-se em sete pressupostos estratégicos que o relacionam fortemente com a não-violência e com as teorias de poder e de mudanças sociais baseadas na não-violência (ver p.34):

  1. Os movimentos sociais demonstraram ser poderosos no passado, e espera-se que possam ser poderosos no futuro.
  2. Os movimentos sociais surgem no seio da sociedade, e baseiam-se nos valores mais progressistas: justiça, liberdade, democracia, direitos civis. Embora muitas vezes se oponham ao estado ou ao governo, os movimentos sociais estão promovendo uma sociedade melhor, e não trabalhando contra a sociedade.
  3. A questão principal é "justiça social" versus "interesses criados". O movimento existe para promover justiça social, e os que estão no poder representam interesses dominantes estabelecidos.
  4. A grande estratégia é promover democracia participativa. A falta de democracia real é uma fonte importante de injustiças e problemas sociais. Na luta pelo objetivo da campanha, o desenvolvimento da democracia participativa é fundamental.
  5. O alvo das campanhas deve ser o cidadão comum, que dá poder às autoridades por consentimento. A questão central nos movimentos sociais é a luta entre os membros de uma campanha específica e os detentores de poder pelo apoio da maioria das pessoas, que, em última instância, possuem o poder de preservar o status quo ou de implementar as mudança desejadas.
  6. O sucesso é um processo de longo prazo, e não um evento isolado. Para alcançar o sucesso, o movimento precisa ser bem sucedido em uma longa série de sub-objetivos.
  7. Os movimentos sociais devem ser não-violentos.

Oito estágios dos movimentos sociais

Um dos dois conceitos-chave do MAP são os oito estágios dos movimentos sociais. Em cada uma dessas etapas, objetivos estratégicos específicos são importantes para mover uma campanha para o próximo estágio. Embora isso possa ser um desafio - não podemos apenas saltar para o sucesso - é ao mesmo tempo importante entender o que pode ser realista em que fase do movimento.

Um movimento começa sem saber disso. Na etapa 1, “business as usual”, o objetivo principal das campanhas é fazer com que as pessoas pensem, demonstrando a elas que existe um problema.

O próximo passo é mostrar a falha dos canais estabelecidos (Etapa 2). Usando audiências, processos legais, participação em procedimentos administrativos, e assim por diante, o movimento deve provar que essas instituições não irão agir para que as pessoas resolvam o problema - ou seja, as pessoas terão de agir por conta própria.

Isso leva a condições de amadurecimento (Fase 3) para o desenvolvimento de um movimento social. As pessoas começam a ouvir e formar novos grupos, pequenas ações de desobediência civil começam a dramatizar o problema. Os detentores de poder ficam um pouco irritados, mas normalmente seguem agindo como de costume.

Se o movimento faz bem o dever de casa (organizando novos grupos, redes e construção de coligações) pode decolar após um evento desencadeador, ou “evento-gatilho” (Fase 4). Isso pode ser organizado pelo próprio movimento - a ocupação do local de construção em Wyhl, na Alemanha, em 1974 desencadeou o movimento anti-nuclear alemão - ou pode ser também algo feito pelos detentores do poder. O evento desencadeador leva a manifestações massivas, grandes campanhas de desobediência civil e ampla cobertura da imprensa. Embora o movimento muito provavelmente possa ganhar muita simpatia pública, os detentores de poder geralmente não desistirão nesta fase.

Isso muitas vezes leva a uma percepção de falha por muitos ativistas (Fase 5). Isso é reforçado pela diminuição da participação em eventos da campanha e cobertura negativa por parte da imprensa.

Mas, ao mesmo tempo, o movimento está ganhando a maioria (Fase 6). Até agora, o movimento se concentrou em protestos; agora é importante oferecer soluções. A maioria da sociedade concorda que há uma necessidade de mudança. Mas isso só não significa que haverá mudança. Agora é importante ganhar a luta pelo tipo de mudança a ser feita.

Os detentores de poder tentarão frustrar o movimento, aumentando a repressão, jogando baixo. O movimento deve estar atento para esses artifícios e promover uma solução alternativa.

O sucesso real (Fase 7) é um processo longo e muitas vezes difícil de reconhecer. A meta do movimento não é apenas alcançar suas demandas, mas lograr uma mudança de paradigma, uma nova maneira de pensar. Por exemplo, desligar todas as usinas nucleares sem que mudemos nossa visão sobre as fontes de energia limpas apenas move o problema da radioatividade para o dióxido de carbono. Colocar algumas mulheres em posições de poder não altera a estrutura de uma sociedade patriarcal.

Quando o movimento mostrar-se vitorioso, seja pela confrontação ou pelo enfraquecimento dos detentores de poder no longo prazo, ele precisa garantir a implementação de suas metas. A consolidação do sucesso e a mudança para outras lutas (Etapa 8) transforma-se agora na nova meta do movimento.

Os quatro papéis do ativismo

O segundo conceito central do MAP são os quatro papéis do ativismo. Cada um desses papéis tem sua própria relevância, que pode mudar através dos diferentes estágios de uma campanha. Mas todos os papéis precisam estar presentes e serem trabalhados de forma eficiente para que o movimento tenha sucesso. Além disso, cada uma das funções pode ser preenchida de forma eficaz ou ineficaz.

The four roles of activism

O “rebelde” é o tipo de ativista que muitas pessoas identificam nos movimentos sociais. Através de ações diretas não-violentas, e dizendo publicamente “não" aos abusos e às injustiças, os rebeldes colocam o problema na agenda política. Mas eles podem às vezes ser ineficazes, representados como uma voz solitária na sociedade, ou fazendo o papel de militante radical. Os “rebeldes” são importantes nas Etapas 3 e 4, e após qualquer evento-gatilho, mas geralmente se deslocam para outros movimentos mais amadurecidos no estágio 6 ou posteriormente.

Os reformadores são muitas vezes pouco valorizados nos movimentos, mas são eles que provam o fracasso dos canais existentes ou promovem soluções alternativas. No entanto, muitas vezes eles tendem a acreditar nas instituições ou a propor reformas muito pequenas para consolidar o sucesso do movimento.

Os cidadãos se certificam de que o movimento não perde contato com sua constituição principal. Eles mostram que o movimento atua no seio da sociedade (professores, médicos e agricultores que participaram dos protestos de Gorleben) e protegem os ativistas contra a opressão. Eles podem ser ineficazes quando ainda acreditam na pregação dos detentores de poder para que sirvam aos interesses públicos.

O agente de mudança é o quarto elemento, que, de alguma forma, exerce papeis-chaves em qualquer campanha. Eles ensinam e convencem a maioria da sociedade, organizam redes de base e promovem estratégias de longo prazo. Eles também podem ser ineficazes promovendo visões utópicas ou defendendo apenas uma abordagem única. Também tendem a ignorar questões pessoais e necessidades específicas de ativistas.

Muitos ativistas e grupos se identificam principalmente com apenas um ou dois dos quatro papéis, porque cada um envolve diferentes emoções e atitudes, crenças, ideologias, fontes de financiamento, acordos políticos e, muitas vezes, acordos dentro da própria organização. Os ativistas podem ser críticos - ou mesmo hostis - com aqueles que desempenham outros papéis. Os ativistas tendem a considerar os papéis que desempenham como os mais importantes e politicamente corretos, enquanto vêem outros papéis como ingênuos, politicamente incorretos, ineficazes ou, mesmo, como inimigos.

Ainda que possam haver pontos de tensão entre os diferentes papéis, reconhecer o valor de cada um deles dentro de um movimento social é importante para que a ação seja bem sucedida.