Autor
Andreas Speck

Desejar que uma ação seja não-violenta não garante, por si só, que isso irá ocorrer. Qualquer ação envolve um conjunto complexo de atores, e pode ser que nem todos concordem com a não-violência, e nem todos necessariamente estarão do nosso lado. Isto é especialmente verdadeiro para ações maiores, com mobilização pública, envolvendo uma variedade de grupos de um espectro político amplo.

Para garantir que uma ação permaneça não-violenta, é importante avaliar os riscos potenciais:

  • Quem queremos que participe da ação? Quem estamos convidando? Quem poderia trazer novas ideias sobre o tema?
  • O que imaginamos sobre o comprometimento de outros grupos com a não violência? Que nível de preparação / treinamento as pessoas terão?
  • Que tipo de distúrbios podem surgir pelas mãos de nossos oponentes, ou da polícia? Há risco de agentes provocadores se infiltrarem para incitar a violência?

Se a conclusão é de que há risco de problemas, é importante preparar estruturas e estratégias para lidar com eles, se de fato surgirem. Isso pode incluir equipes preparadas para intervir em caso de escalada da violência, seja pela polícia ou por parte de outras pessoas.

Linhas de conduta da não violência (Guidelines)

As linhas de conduta, ou diretrizes da não violência são frequentemente usadas como uma maneira de minimizar o risco de violência, pois são uma declaração clara dos organizadores sobre a natureza de determinada ação. As "diretrizes de não violência" não são a mesma coisa que os “princípios da não-violência” (ver p.11). Trata-se de um acordo sobre como os participantes de uma ação devem se comportar. Podem ser declarados em termos bastante práticos ("Não iremos transportar armas") ou estar em termos mais filosóficos ("Nós nos reuniremos de uma maneira que reflete o mundo que escolhemos para criar").

As diretrizes de não-violência podem trazer vantagens e desvantagens. Às vezes, podem criar mais problemas do que soluções, enquanto outras vezes contribuem para a confiança mútua e para a sensação de segurança entre os participantes. As linhas de conduta da não violência podem enviar uma mensagem importante aos participantes (incluindo os potenciais), no sentido de que a ação será não-violenta e que a violência não será tolerada.

Não se deve esperar haver sempre acordo sobre o que se entende por não-violência, nem sobre os motivos pelos quais se defende a não-violência. Mesmo em grupos pequenos e aparentemente homogêneos, tais discussões trazem à tona múltiplas interpretações e diferentes níveis de comprometimento à não-violência. Elaborar uma linha de conduta de não-violência pode deixar claro o que se pode esperar em uma ação específica.

Algumas vezes, as linhas de conduta podem causar divisões, especialmente quando se trabalha em grandes coalizões. O termo “não-violência” propriamente dito muitas vezes é visto como dogmático ou ideológico, mesmo entre grupos que, na prática (e talvez não na ideologia) atuem de forma não-violenta. Nesses casos, é ainda mais importante desenvolver a confiança entre os diferentes grupos que organizam a ação e conceber estratégias para garantir que a ação permaneça não violenta.

As linhas de conduta da ação não violência não são um substituto para treinamento e preparação. Agentes do governo infiltrados podem tentar difamar um grupo instando as pessoas a agir com violência. As linhas de conduta da não violência - aliadas ao treinamento em não violência - podem permitir que um grande número de pessoas participe de uma ação de forma não violenta, mesmo que tenham pouca experiência nessa área. Não importando o nível de comprometimento dos organizadores com os princípios da ação não-violenta, ou a forma como a estratégia da campanha é organizada, é crucial que os participantes em manifestações e ações de desobediência civil reflitam os princípios da não-violência, se desejarem uma campanha não-violenta eficaz.